terça-feira, 23 de março de 2010

Mais gente, menos água

Por HELENA DAUSACKER DA CUNHA*


A água, recurso mais precioso do planeta, é fundamental para o desenvolvimento sustentável, o crescimento econômico e a diminuição da pobreza. Por se tratar de um recurso finito, que está em seu limite de consumo, provavelmente será o motivo de guerras neste século. Robin Clarke e Jannet King relatam, em “O Atlas da Água”, que mais de um terço da população mundial não dispõe de água. E a situação está se agravando. Em 2000, o mundo usou duas vezes mais água do que em 1960.

O Brasil concentra entre 12% e 16% do volume total de recursos hídricos da Terra. Embora essa seja uma participação expressiva, os recursos não são distribuídos de forma homogênea e encontram-se ameaçados. As regiões Sul e Sudeste apresentam recursos relativamente abundantes, mas o elevado grau de urbanização, a densidade populacional e os usos múltiplos da água estão levando à escassez em algumas regiões.

Joinville, a maior cidade de Santa Catarina, tem dois mananciais de captação com qualidade excelente, os rios Piraí e Cubatão. A demanda na região apresenta um crescimento constante em função de fatores demográficos e socioeconômicos. Segundo um estudo de técnicos do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão, o balanço entre a oferta e a demanda hídrica é preocupante, principalmente entre os meses de abril e agosto. Com as tendências de evolução das demandas, haverá conflito entre o abastecimento público e os outros usos nas próximas décadas.

Ambos os mananciais têm suas nascentes em áreas de proteção ambiental na serra do Mar, sem fontes significativas de poluição até os pontos de captação. No rio Piraí há 100% de cobertura vegetal, turbidez, cor e dentro dos melhores parâmetros. O rio Cubatão também tem água de qualidade, não como a do rio Piraí, mas há uma boa cobertura vegetal nas margens do rio e a vazão atende perfeitamente às necessidades.
Joinville poderá ter água em abundância e de boa qualidade por algumas décadas. Mas, para isso, precisamos monitorar as situações de risco, que são a preservação das nascentes e mananciais de abastecimento, a sustentabilidade do sistema de abastecimento, a instalação de hidrômetros em todos os locais que recebem água potável para disciplinar o consumo e evitar o desperdício, e o controle das perdas na rede.

O sistema de Joinville é suficiente para abastecer uma população de quase 1 milhão de habitantes. Entretanto, as perdas comprometem de forma representativa o abastecimento em períodos de maior demanda, embora a capacidade nominal de produção devesse, teoricamente, suprir com folga estes períodos de pico. Estima-se a existência de um grande número de vazamentos na rede, dos quais a grande maioria não é detectada em função da absorção de pequenas vazões pelo solo arenoso e, portanto, não chegam a se manifestar na superfície. Em cinco anos de trabalhos, a Águas de Joinville reduziu o índice de perdas de 60% para 39%, mas ainda há muito trabalho a fazer.

Apesar da disponibilidade e da qualidade da nossa água, existem problemas que, se não forem resolvidos a tempo, podem comprometer o abastecimento.

A bacia hidrográfica de abastecimento do Cubatão é vítima do processo de degradação proveniente da histórica ocupação humana ao seu redor e vem sofrendo ao longo dos anos sérias ameaças à sua conservação. A poluição de suas águas devido aos despejos das indústrias e do esgoto doméstico, o assoreamento acelerado pelo desmatamento criminoso, a ocupação ilegal das áreas públicas, a contaminação por agrotóxicos, as obras mal dimensionadas e as atividades mineradoras no leito do rio contribuem para acelerar este processo.

A sobrevivência ecológica dos rios Piraí e Cubatão submete-se à própria importância econômica e social, pois geram recursos naturais e saúde à população. Os possíveis cenários para o futuro variam e dependem de políticas, ações locais e cumprimento das leis ambientais. Os principais desafios são a proteção dos mananciais, a proteção da biodiversidade, o estímulo ao reúso da água e consumo consciente.




O PAPEL DO JOINVILENSE

A água gasta no banho, a máquina de lavar usada com pouca roupa, a torneira pingando e até o tempo que se demora em lavar a louça. O uso doméstico da água é uma das formas mais evidentes de consumo. Quando as pessoas ganham mais dinheiro e elevam o padrão de vida, seu uso doméstico de água aumenta.

Embora o balanço entre oferta e demanda de água em Joinville seja positivo, parte da população sentiu a dificuldade da falta de água decorrente do alto consumo nos meses de janeiro e fevereiro deste ano.

Se o mundo fosse uma caixa-d’água sendo abastecida por uma torneira e fornecendo água por outra, a quantidade de água que sai seria muito maior do que a que entra, compara o coordenador do Programa de Educação para Sociedades Sustentáveis da entidade ambientalista WWF-Brasil, Irineu Tamaio. Nós já estamos roubando recursos das próximas gerações.

A água tratada é sinal de saúde. Faça também sua parte, evite riscos, limpe regularmente sua caixa-d’água, economize água, informe vazamentos e denuncie atos de vandalismo.

A sociedade tem papel fundamental na preservação da água. O destino da água em Joinville depende de como cuidaremos dela em nossas casas e de como o poder público cuidará de nossos recursos naturais. Lembrando que cabe a nós, cidadãos, fiscalizar e cobrar a atuação do poder público.


*Helena é engenheira sanitarista e ambiental formada pela UFSC. Tem aperfeiçoamento em gestão ambiental para empresas de saneamento e capacitação em gestão de recursos hídricos. É integrante do Comitê de Gerenciamento das Bacias Hidrográficas dos Rios Cubatão (Norte) e Cachoeira e coordenadora de Controle de Qualidade da Companhia Águas de Joinville.

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